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Foto do escritorLuíza Bispo

Exposição “Seja noite, seja dia, meu corpo gira” de July B. reflete o encontro da ancestralidade e o maracatu

Em vigor até fevereiro de 2025 na Torre Malakoff, o universo fotográfico reflete a jornada de pertencimento e autodescoberta do artista


Entre estudos de luz, cor e sombra e os batuques do Maracatu Nação Encanto Pina, o fotógrafo July B. mergulhou em um profundo processo de metamorfose que deu à luz a exposição “Seja noite, seja dia, meu corpo gira”, que se encontra de portas abertas ao público desde o mês de novembro e segue até 10 de fevereiro de 2025. O trabalho, exibido na sala Alcir Lacerda da Torre Malakoff, é fruto de um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso do artista, que dedicou os últimos oito anos ao estudo de Cinema e Audiovisual na UFPE. Mais que um diálogo técnico com a câmera, a exposição acaba por revelar um reencontro contínuo de July com a ancestralidade e consigo mesmo. 


Para além do domínio com a fotografia, ele é um corpo que transita. Negro, trans e batuqueiro, o artista se reconhece em construção constante: “A ideia do meu trabalho é mostrar essa conexão com a ancestralidade e a construção contínua de identidade, de genero e de raça, fruto de um processo individual de um corpo que caminha e se coloca no mundo como uma pessoa trans e negra e vai descobrindo essa identidade ao longo do caminho”, afirma.


Com um tom experimental e cru, a arte retratada por July nasce de uma relação íntima com o erro, fugindo da busca pelo “certo” ou o “limpo” em seus retratos. “Quando registro, não estou em busca de estaticidade. Quero o movimento, os rastros, as sombras escuras demais. Eu escancaro os erros na pós edição. É quase como desmanchar a fotografia original, desestabilizar os parâmetros tradicionais de arte”, explica. Para ele, errar é uma forma de expressão e redescoberta de seu corpo e sua identidade.


“Meu trabalho como fotógrafo me coloca em um lugar de experimentação. Aos poucos, eu me entendo como um corpo no mundo e a como me sustentar. Todo dia aprendo um pouco mais a falhar, me desprendi a entregar algo ‘certo’ nos parâmetros da sociedade capitalista”

Na imagem: July B. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Exu e autodescoberta 


Descrita como uma celebração da vibração ancestral, "Seja noite, seja dia, meu corpo gira” permeia o entendimento religioso e interpessoal vivenciado por July B. nos últimos anos, onde vivenciou e desmembrou as várias facetas e encontros que o tornaram quem ele é hoje. Por trás desse processo, é Exu, conta, que guia seus passos e inspira sua prática e seu pertencimento artístico. “Aqui não tem como falar de inspiração sem falar de Exu. Em vários momentos me percebi sendo guiado (por Exu) a encontros e, no cartaz de divulgação da exposição, tentei registrar esse encruzilhamento, esse lugar onde os caminhos se cruzam”, pontua. O maracatu do baque virado foi um desses encontros transformadores, uma ponte entre a conexão com sua ancestralidade e a cultura popular, a partir de sua entrada no Maracatu Nação Encanto Pina.


Tal jornada de autodescoberta e pertencimento traduz-se em uma exposição que não teme o imperfeito, mas celebra o caminho percorrido, o gesto, o erro, o movimento. A Manguetown Revista celebra a arte independente, transgressora e crua de artistas como July, e convida todos a prestigiarem o seu universo fotográfico, que segue em exibição até fevereiro de 2025.


A Torre Malakoff se encontra no Bairro do Recife e abre suas portas das terças às sextas, nos horários de 10h às 17h e nos domingos, nos horários de 14h às 18h.



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