A cineasta foi a primeira mulher a dirigir um filme no estado
Texto do colaborador Artur Serrano.
Sendo um dos principais nomes da produção audiovisual de Pernambuco, Kátia Mesel faz cinema há mais de cinco décadas. Apesar de ter se formado em Arquitetura e Artes Gráficas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), seu amor pelo cinema surgiu quando ainda tinha por volta dos seis anos de idade. O primeiro filme que viu, nessa época, foi O Mágico de Oz. Gostava de brincar com luz e sombras, e descobriu que, se jogasse uma pedrinha em um tanque com uma lanterna, veria ondas refletidas na parede.
A primeira mulher a dirigir um filme em Pernambuco
Kátia também gostava bastante de fotografar, muito por causa do próprio curso de Arquitetura. Seus pais, então, lhe deram uma câmera 8 mm. “Olha aí, você não gosta tanto de fotografar? O moderno agora é fotografar em movimento”, disseram seus pais. Foi aí que ela começou a filmar tudo ao seu redor.
Nascida de família judaica em 8 de março de 1948 em Recife, foi pioneira no cinema pernambucano. A primeira mulher a dirigir um filme no estado iniciou sua carreira em 1968 e, até hoje, acumula mais de 300 obras. Iniciou de maneira muito amadora e experimental, em um universo muito masculino, mas isso não impediu que Kátia acumulasse mais uma conquista histórica: foi a primeira mulher a participar de um festival de cinema no Brasil, em 1973, com o filme “Rotor”.
Na década de 1980, Kátia fundou sua produtora, a Arrecife Produções, e, em 1984, foi a primeira mulher a conseguir um financiamento através de um edital de cinema nacional. Em meio a diversos financiamentos destinados a cineastas homens de São Paulo e do Rio de Janeiro, Kátia queria que o Nordeste também ganhasse. Apresentou um projeto e recebeu o dinheiro, que utilizou para produzir o filme “Oh de Casa”, sobre arquitetura tropical e baseado no livro de mesmo nome de Gilberto Freyre.
“Recife de Dentro pra Fora”
Dentre suas produções, a maioria de curtas-metragens e documentários, uma das mais conhecidas é “Recife de Dentro pra Fora” (1997), que é inspirado em um poema de João Cabral de Melo Neto e mostra a realidade social ao redor do Rio Capibaribe. “O Rochedo e a Estrela”, de 2007, é muito lembrado por ser seu único longa-metragem. O filme mostra a origem da comunidade judaica no Recife até a sua diáspora, no século XVII. O filme também tem grande importância por ter sido gravado em quatro países, em português e também em inglês, além de inserir Pernambuco em um contexto global.
“A Gira”, de 2008, foi uma das obras de Kátia que lhe renderam prêmios. O curta trata das influências de matrizes africanas nas festas populares de Pernambuco, e foi premiado pela Fundação Palmares. Já “Recife de Dentro pra Fora” ganhou 26 prêmios em festivais nacionais e internacionais, como Melhor Fotografia no Festival de Gramado e Melhor Documentário no Festival de Curtas-metragens de Bilbao, na Espanha.
Kátia Mesel também produziu, através da Arrecife Produções, o programa “Pernambucanos da Gema”, sobre diversos temas, para a TV Pernambuco. O programa foi ao ar de 1991 a 1993, mas nunca foi digitalizado por falta de financiamento.
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