“Mais Do Mesmo” de Tronxo é um relato sincero sobre a vida periférica
- Manu Gomes
- 8 de abr.
- 3 min de leitura
A “violência é radioativa” traz o rapper na canção que aborda a violência dentro das periferias pernambucanas

No dia 28 de março, o rapper Tronxo lançou a música “Mais Do Mesmo” que retrata sua perspectiva de vida observando temas como violência, drogas, racismo e trabalho.
O artista-entusiasta periférico, como ele se denomina, tece críticas e reflexões apoiadas nos versos da canção, com uma batida mesclada ao instrumento musical órgão (comum em igrejas e templos religiosos), como se estivesse velando um corpo. “Mais Do Mesmo” foi composta, produzida, mixada e masterizada pelo próprio artista.
“Na verdade, ‘Mais Do Mesmo’ são três músicas em um único beat. Tudo isso estava pronto ano passado, mas por algum motivo não saiu... Essa faixa marca minha volta de onde eu talvez não tenha ido.”
Confira os principais tópicos abordados pelo artista na análise da letra:
Análise da letra
“17 anos, mais de 7 anos mortos
Muitas missas de sétimo dia
Pai já falecido
Mãe trabalha em dobro enquanto ele crescia”
O rap começa trazendo a dura realidade da vida do artista, que também trabalha como performer e ator.
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“A fim de ganhar dinheiro como os manos que ainda viviam
Mas com muito medo, enorme receio, se ali ou com os cria
Ande repentinamente se o é corrente tudo o que antes não tinha
Se tornou tão fácil, tão ligeiro e rápido grana viciada.
Nessa de ter e não ter, o inimigo atenta todo dia
Como não querer o bife se ‘cê só come salsichinha?
Na esquina, coitão na cinta, rodeio na mente e uma bolsa na mão
O noiado passa 20 conto, fácil faz as contas, passa quantos passarão?
De outono e inverno a verão
Continua, porra, nunca muda
O capitalismo te abraça e te beija e depois te mata com tiro na nuca
Craque gera grana, gera morte, exterminio e paranoia”
Tronxo traz um claro retrato do tráfico de drogas como uma forma rápida de garantir um pouco de sustento para a família e faz um sobre o vício e morte dos “cria” nas comunidades. Uma triste e dura realidade nas favelas pernambucanas.

“3 da manhã e eu aqui fazendo rap
Pensando na farda do menor, suja de red
Mãe de família joga a rede para ver se pesca o que preste
Mas a porra da violência quase sempre..
Ah, é triste ver o irmão ainda declínio, achando que ‘tão em ascensão
Com o horizonte quase sempre limitado
‘Pô que pena que o estrago não é individual,
É que a violência é radioativa e desde menor meu povo segue sendo exposto.
Ainda bem que nem todos morrem dessa merda
Alguns se vacinam com o rap e criam anticorpos”
O rapper traz novamente a luta diária retratada nas mulheres de família e como isso o afeta ao pensar em como essas famílias são destruídas por conta da violência e drogas. Ele enaltece o rap como forma de escapar dessa realidade diária e poder construir um novo caminho para si e para outras pessoas negras periféricas.
“Eu tô acostumado a ficar neutro só por medo da PM
É que eles tratam diferente se for gente como a gente, a gente sabe
Então, segue o manual: “mão na cabeça!” “em qual cabeça?”
Eu disse pela tiração, só que não. Se eu falo isso, ele me manda para o caixão”
Por fim, Tronxo traz o cenário da violência policial contra pessoas negras, até de forma bem-humorada, como forma de racismo. Ele deixa claro como é tratado de forma diferente nos “enquadros” policialescos.
“A cor do meu sangue é igual de geral
Mas a da minha pele me marca
Não faz muito tempo, eu lembro, eu vi uma galera sucumbindo na maca
Mas pelas ideias, cheques, que eu vi na minha cabeça ficou uma marca
Talvez seja mágoa, ou karma mas maldita seja, irmão, aquela bala de assalto na cara
Que braba, a vida é assim uma hora a gente lavra
Mas porra do nada, que braba
Você tava aqui, depois foi embora, te levaram embora
É foda!
Por aqui é assim, sobrevive quem pode.”
Você pode conferir a música em todas as plataformas de streaming:
Videoclipe:

O videoclipe é simples mostrando o rapper em estúdio dublando a canção em um fundo verde. Tronxo interpreta a canção com gestuais e expressões com as mãos.
Hora ele canta de olhos fechados com o microfone, hora ele segue o movimento da câmera com um olhar penetrante.
Você pode conferir o vídeoclipe aqui: https://www.youtube.com/watch?v=HbsMYyI9QyY
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