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Foto do escritorLeandro Lopes

“O Auto da Compadecida 2” é uma obra fria que não sustenta legado do primeiro filme

Continuação lançada no natal não é um bom presente


O Auto da Compadecida 2 ” é um dos filmes mais esperados de 2024. Com estreia marcada para 25 de dezembro, a obra tem a proposta de retomar, após 25 anos, a importante história e a conexão que a primeira montagem que se estabeleceu como um clássico brasileiro, gera afeto e pertencimento com os icônicos João Grilo e Chicó, interpretados por Matheus Nachtergaele e Selton Mello, respectivamente. 


Post de "O Auto da Compadecida 2". Foto :Divulgação /O Auto da Compadecida 2
Cartaz de "O Auto da Compadecida 2". Foto: Divulgação /O Auto da Compadecida 2

Na continuação, no entanto, o que parecia promissor ficou limitado à ideia de Guel Arraes e Flávia Lacerda, dois respeitados diretores à frente da produção, mas que, infelizmente, não conseguiram transmitir o que a história de tantos personagens queridos realmente merecia


O primeiro filme, considerado por muitos um dos mais importantes nacionalmente, não é visto nesta “continuação”, que se baseia no teatro e em A Farsa da Boa Preguiça (1960), do gigante Ariano Suassuna. O que deveria ser interessante, se perde, e não consegue transmitir a grandeza esperada. 


Com uma narrativa inflada por personagens desnecessários e uma evidente exploração publicitária, o filme se junta a uma lista de produções que correm o risco de cair no esquecimento. Embora a cultura exaltada pelo autor paraibano, com raízes pernambucanas, esteja presente na obra, ela é abordada de maneira fria ainda.


" O Auto da Compadecida 2". Foto :Divulgação /O Auto da Compadecida 2

Outro ponto que incomoda é a mercantilização evidente ao longo da exibição. Diferentemente do primeiro longa, esta sequência insere propagandas explícitas de marcas de cerveja e alimentos, reforçando a sensação de que o mercado da sétima arte foi, aqui, priorizado em detrimento de uma narrativa mais autêntica e criativa.


 Fotografia pobre


A pós-produção também deixa a desejar, com um filtro alaranjado, que em nada contribui para a fotografia, e sim lembra as novelas que estereotipam personagens nordestinos. Além disso, toda a filmagem parece ocorrer dentro de estúdios, sem locações externas, o que dá um aspecto artificial a todas as cenas.


Arte Manguetown Revista. Lado esquerdo um trecho do " O Auto da Compadecida 2 " e ao lado direito um cartaz da novela "Rancho Fundo" da Rede Globo. Foto: Divulgação/ O Auto da Compadecida | Reprodução/ TV Globo

Mesmo com as tentativas, parece que a obra foi gravada dentro de uma bolha, com uma perspectiva distorcida, como muitas vezes é vista em produções das regiões Sul e Sudeste que tentam retratar o Nordeste. Nem a novela Rancho Fundo (2024), da Globo, tinha um cenário tão ruim quanto esta continuação.


Enredo também deixa a desejar


A falta de conexão no roteiro compromete o desenvolvimento dos personagens, impedindo que bons atores explorem plenamente seu talento. Luiz Miranda, no papel de Antônio do Amor, e Fabíula Nascimento, como Clarabela, são profissionais reconhecidos, mas enfrentam limitações impostas por um enredo superficial. Seus personagens carecem das nuances marcantes que definem a obra de Suassuna, resultando em atuações que não conseguem cativar nem no humor, um dos pilares do universo do autor.


O único ponto positivo da obra é poder ver João Grilo, Chicó e Rosinha juntos novamente, em um momento de celebração. Isso faz com que a esperança por essa continuação seja um pouco mais favorável. Os três atores, que estiveram presentes no primeiro filme, conseguem segurar o público e, ao menos, aquecer o coração de quem esperou tanto por uma continuação que, na verdade, não era necessária.


Ir ao cinema é um ato de resistência, e celebrar Ariano Suassuna e os personagens da trama é, sem dúvida, um momento significativo. No entanto, é importante que o público não vá na expectativa de chorar ou se emocionar como aconteceu no primeiro filme, pois isso dificilmente ocorrerá. Mesmo diante de todo o cenário apresentado, quem decidir dar uma chance à obra pode acabar se permitindo uma nova experiência, ainda que longe das expectativas geradas pela primeira obra.





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