2024 foi ano de festivais e eventos celebrarem a memória e legado de culturas ancestrais
E depois de tanta espera, 2024 chega finalmente à sua reta final. Chegamos também ao momento de relembrar momentos marcantes que trabalhamos dentro da Manguetown Revista. Passados os festivais de cinema, as conquistas da música pernambucana e a celebração deste ciclo de quase dois anos de existência deste veículo, vamos (re)visitar alguns dos momentos que marcaram a Literatura neste período.
Se pudéssemos definir 2024 para a editoria de Literatura da Manguetown Revista, seria a celebração de culturas ancestrais. No meio dos caminhos percorridos pelos repórteres, nos deparamos com figuras recorrentes que carregavam em suas palavras as vozes dos que vieram antes. Estas mesmas figuras são responsáveis por organizar eventos literários com tais temáticas.
A memória tem sido muito recorrente na Manguetown Revista em 2024, e a editoria homenageia estas figuras que representam a memória na poesia: Inaldete Pinheiro, Bell Puã e Odailta Alves, tão recorrentes nas nossas matérias quanto um parente que sempre nos visita.
É claro que esta reincidência não é à toa: logo no primeiro trimestre do ano, em março, aconteceu o seminário A Mulher na Literatura Pernambucana, que discutiu diversos temas, por meio de palestras, sobre a produção literária feminina em Pernambuco. Além de Bell Puã e Odailta Alves, também participaram do evento Katarine Araújo e Kemla Baptista, escritoras, poetas e contadoras de histórias.
O primeiro semestre de 2024 também contou com um passeio por Pasárgada, lembrando o legado do escritor Manuel Bandeira na semana especial batizada de Alô, Cotovia. Foram quatro tardes de abril com feiras, saraus e escambos literários organizados pela equipe do Espaço Pasárgada.
Este mesmo mês foi marcado por outra notícia que animou os amantes de literatura do país inteiro: aquele sobrado, na Boa Vista, onde Clarice Lispector passou sua infância sonhando com os livros da Imperatriz, será transformado em museu. Em homenagem a este afeto de memória, a Manguetown Revista trouxe em reportagem outros dois espaços de memória da literatura pernambucana: a antiga casa de Manuel Bandeira e o Memorial Chico Science, no bairro de São José.
Chegou o período dos festivais
Não foi apenas o cinema que presenciou uma série de festivais. No âmbito literário, aconteceu em maio deste ano o primeiro Festival Literário das Periferias, idealizado por Pallas Camila. A Fliperifa levantou o mote de “Direito à Literatura”, homenageando as escritoras Odailta Alves e Inaldete Pinheiro. A curadoria da feira, que passou pela comunidade de Santa Luzia (Zona Norte do Recife), ficou nas mãos de Bell Puã. No mesmo mês, também aconteceu o Circuito Literário de Pernambuco (Clipe), que movimentou a classe docente e estudantil do estado, com palestras, apresentações musicais e conversas com figuras da arte brasileira.
Junho e julho foram os meses dos festivais de literatura negra no estado. Petrolina foi sede da 2° edição do Festival Pernambucano de Literatura Negra (FLIPEN), idealizado pela escritora e jornalista Jaqueline Fraga, celebrando o protagonismo negro na literatura em mesas redondas dos mais diversos gêneros.
Em comemoração ao Julho das Pretas, a FLIPEN seguiu para Garanhuns em nova edição, pautado pelo tema: “Esse lugar também é meu: mulher, negra e escritora”. O festival encerrou o ano na cidade do Recife, com sua quarta edição em novembro, contando com a presença de Odailta Alves, Maria Cristina Tavares e Crislaine Venceslau.
E por fim, não menos importante, Pernambuco celebrou o retorno da Fliporto, a tradicional Festa Literária Internacional, após um hiato de cinco anos. A edição homenageou o legado de Chico Science, cuja criação está de aniversário (feliz 30 anos, “Da Lama Ao Caos”), e do escritor Raimundo Carrero. A feira contou com mesas que discutiam temas como literatura e inteligência artificial; e o cangaço e sua relação com a geografia da fome, além de outros assuntos relacionados aos homenageados.
As poesias formam os rios da Manguetown
“nas ruas sou rei
com poesia fui coroado
meus versos é arma sagrada”, entoou Lucas Marafa em um de seus poemas, presente no livro “Fui, Vim, de Volta!”, lançado neste ano. A repórter Beatriz Santana conversou com esta memorável figura na época em que estava publicando sua antologia, que celebra a cultura de seus ancestrais enquanto escreve sobre o presente. Marafa é um artista de resgate, perambulando pelas margens dos “começos, meios e começos”.
Percorrer outros meios é um dos lemas da Manguetown Revista que, representada pela repórter Letícia Barbosa, adentrou as ruas noturnas de Olinda para presenciar o Slam das Minas. O coletivo, junto com o Slam Karuaru, disputam os campeonatos nacionais de poesia falada em nome de Pernambuco, sendo também um espaço de comunhão poética das mulheridades.
E por fim, sempre retornamos ao centro do mangue. Mas, saímos da lama e cruzamos a Ponte Guararapes, passando por um beco onde se juntam vários barzinhos cuja euforia esconde uma praça guardada pela estátua de Mauro Mota. A Praça do Sebo, como apurado pela repórter Júlia Carla, resiste desde a década de 80 contra o esquecimento. Um esquecimento causado pelos novos tempos, pelo esvaziamento do centro da cidade, a insegurança crescente e o escalonamento pelo poder público. Ainda assim, a Praça do Sebo é um bom símbolo para fechar 2024: uma memória, de leitura e poesia, que resiste bravamente ao abandono.
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