A cena do hip hop, o futuro e o passado e a cidade em movimento foram presentes na Manguetown Revista
Abram espaços nas ruas e calçadas, nos muros e nos morros, nos mais variados territórios: é por lá que, pedindo licença e tomando passos entusiasmados, queremos passar. No ano de 2024, a Manguetown Revista propôs trazer luz às culturas que muitas vezes passam despercebidas, que são marginalizadas e que nascem nas esquinas invisibilizadas pela grande mídia.
Para isso, entendemos que falar de cultura popular e da particularidade de cada pedacinho de Pernambuco requer um olhar ainda mais aprofundado. Ao longo das atividades, conhecemos cidades, falamos de pessoas, exposições, movimentos e muito mais. E é com expectativa de construir um 2025 ainda mais diverso, que destacamos o nosso percurso durante este ano.
Por isso, nada melhor do que começar falando delAs. Reverenciamos aqui todas as mulheres que passaram por nossa curadoria, em especial a Crew Pixe Girls, que completou 10 anos de atividade. Com trajetória marcada por luta e resistência, o grupo, formado apenas por mulheres, se destaca no mundo do graffiti, e foi tema de reportagem aqui na Manguetown Revista. Surgido em 2014, o Crew foi fundado por Lai Alves e TAB, que decidiram se juntar para se fortalecerem diante das dificuldades para permanecerem no cenário.
O ano também foi marcado por conquistas por parte da equipe. Um dos projetos aceitos em editais foi a participação do circuito dos megamurais, iniciativa do Gabinete de Inovação Urbana Municipal. Com a arte assinada por TAB e Bubu, o megamural faz uma homenagem ao hip-hop e à rapper Bione, grande referência feminina dentro da cena local. “Ritmo e poesia”, como foi nomeado a obra, está localizado no Edifício Garagem Central, na Rua da Saudade no bairro da Boa Vista.
Mulheres no Hip Hop
Além de Bione, a luta das mulheres na cena do hip hop também foi pautado nas redes da Manguetown. Apesar do crescimento significativo da participação delas nas batalhas de rima, a ausência feminina no Duelo Estadual de MCs evidencia como o movimento ainda é dominado por vozes masculinas.
Em entrevista, a MC N.I.X, 24, destaca que os desafios vão além do machismo. “O ambiente não propicia que mulheres se sintam confortáveis, e muitas que começam não conseguem continuar, pois são as que estão cuidando da casa e dos filhos”. Ela também menciona suas dificuldades como mãe solo e a luta constante para equilibrar suas responsabilidades com a carreira. “Minha maior motivação é a minha filha. Quero que ela veja que não desisti dos meus sonhos”, afirma N.I.X, que já chegou à final do Duelo Estadual em 2022.
Já que estamos falando de rimas…
A Manguetown Revista teve a chance de conhecer um pouquinho mais de perto o mundo do Duelo de Mcs. No conteúdo especial, apresentamos participantes como Professor, Menor Tedy, Kim Mc, aCuca, Vinicius ZN e JDDL, que foram finalistas do Duelo de Mcs de Pernambuco.
Por aqui fizemos questão de acompanhar tudo, e esperamos um futuro ainda maior e mais brilhante para as batalhas.
E falando de futuro, por que não falar de passado?
A redescoberta e o apelo sentimental presente nos sons emitidos pelos discos de vinis foram tema de uma reportagem especial aqui na Manguetown. Entitulada “O som das calçadas: a memória esotérica dos discos de vinil no Recife”, a matéria de Luíza Bispo explora o retorno do interesse pelo som analógico em plena era de streamings e das playlists digitais, embalada por conversas afetivas com entusiastas desse tipo de mídia.
Pode parecer curioso, mas para os apaixonados, como é o caso do colecionador e vendedor Luiz Cunha, esse interesse é lógico e sentimental: “Quando você escuta a música pela internet, é uma experiência rápida e bonita, mas não é prazerosa como no CD ou vinil. Nada se compara a abrir o encarte, ler as letras e olhar a história do artista, por isso tem muita gente que gosta de ouvir as músicas com o disco na mão. É até difícil de explicar, é mania de colecionador. A mídia física é quase uma biografia”, conta o comerciante localizado no Polo Livresco, na Avenida Guararapes.
A cidade resiste
2024 também foi um ano de relembrar lutas e refletir sobre questões que dizem respeito à cidade. O Movimento Ocupe Estelita (MOE), que completou 10 anos, realizou uma série de eventos em celebração ao marco.
Além de uma sessão solene na Câmara dos Vereadores do Recife, o MOE organizou a Mostra Audiovisual Ocupe Estelita +10, que reuniu as produções de do chamado cinema de intervenção, documentários de urgência e vídeo clipes satíricos que emergiram no período de ocupação no Cais José Estelita.
Passos e mais passos
Diante do caminho da Manguetown, diversas exposições, mostras, festivais, manifestações culturais e muito mais marcaram presença e estiveram em nosso radar. Evidenciamos o No Ar Coquetel Molotov, Sertão Alternativo, Tramas Negras, Festival Lula Calixto, Baile Charme e tantas outras que fizeram parte da história que construímos em mais um ano. Planejamos ainda mais passos, ainda mais territórios, e que venha mais cultura, mais cidade, mais pessoas e mais antenas fincadas por aí.
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